Midia Recôncavo - Oficial - Por Anderson Bella

domingo, 31 de julho de 2011

Águas do Paraguaçu levam o cultivo de maçã e ameixa para a Bahia

Cabaceiras do Paraguaçu - Ba (Foto: Anderson Bella)
O Globo Rural faz uma viagem por três regiões da Bahia: Chapada Diamantina, Caatinga e Recôncavo. É o caminho feito pelo rio Paraguaçu, no seu percurso até o mar. No trajeto, o maior rio totalmente baiano gera empregos, cria paisagens deslumbrantes e irriga culturas nunca vistas na região. Montanhas imponentes, das mais belas do Brasil, e joias raríssimas encravadas no coração da Bahia. É nesse cenário que começa a viagem pela bacia do rio Paraguaçu. A Chapada Diamantina é a terra dos rochedos gigantes e de águas cristalinas. O maior rio totalmente baiano tem 614 quilômetros de extensão. Nasce na Chapada Diamantina e deságua perto de Salvador, na Baía de Todos os Santos. Sua missão é dar ao homem a riqueza de suas águas.

Para ver onde o Paraguaçu começa, viajamos até o município de Barra da Estiva. Nosso destino é o Morro do Ouro, uma área conhecida como “Cocal”. É onde fica a nascente, o trecho oculto do rio Paraguaçu.

É difícil imaginar que o Paraguaçu brota ao lado de um pasto abandonado. Na nascente, o Paraguaçu quase cabe na palma da mão. É interessante saber que essas águas, que começam tão tímidas, cruzam três regiões importantes da Bahia, matam a sede, a fome, distribuem riqueza, abastecem mais de dois milhões e meio de baianos.

Aos poucos, o filete d'água vai dando forma a um pequeno córrego. Mais adiante o Paraguaçu já ganha porte de um riacho, correndo ao lado ao lado da área abandonada.

Admo da Conceição é um pequeno empresário, uma espécie de protetor do primeiro trecho do Paraguaçu. Comprou a velha fazenda de café só para preservar a nascente. “Eu arranquei esse café e no lugar disso deixei, abandonei. Porque eu gosto da natureza, eu gosto da água, ninguém tem o direito de destruir uma nascente que uma vez morta nunca mais ela existe”.

O rio mal começa e vai logo distribuindo suas águas. Ao lado da primeira ponte funcionava uma pequena adutora, que ajuda no abastecimento do município de Barra da Estiva.

Vinte quilômetros adiante encontramos o agricultor Jonas Braga cuidando do seu cafezal. Quando chove bem, ele chega a colher até cem sacas por safra, mas quando a chuva falta é prejuízo certo. “Tem dia assim, joelho no chão, peço a deus para ver essa água do Paraguaçu chegar aqui para a gente fazer uma irrigação, ficar tudo molhado, bonito”.

Basta um pivô para o sonho do agricultor se realizar. Em uma fazenda de Mucugê, oito pivôs molham o cafezal com a água do Paraguaçu. Até a floração das plantas, eles funcionam 20 horas por dia. Depois que os grãos se formam a carga de água diminui. A despesa também.
No fim da tarde os pivôs centrais são desligados. Porque entre as seis e nove da noite, horário de maior pico no consumo, os produtores pagam uma energia muito cara, pagam até dez vezes mais que o preço normal.
Água para irrigação, altitude que chega a mil e cem metros, temperatura baixa para os padrões do nordeste. Com essas condições, a produtividade não deve nada a regiões tradicionais de café: 60 sacas por hectare.
A barragem do Apertado, uma represa de 25 quilômetros de extensão, abastece o perímetro irrigado da região. O curioso é que esse volume vem de um Paraguaçu ainda menino.

Evilásio Fraga, é agrônomo e um dos diretores do Comitê da Bacia do Paraguaçu. A entidade é administrada pelo governo, com a participação da sociedade civil, e foi criada para preservar a barragem e controlar o uso da água. “Nós temos essa preocupação muito grande em estar aplicando a água de forma que ela possa atingir o melhor resultado de utilização possível, sem perdas”.

Quando o comitê foi instituído, 170 mil hectares de 80 fazendas já vinham sendo irrigados pelas águas do Apertado.

Os produtores querem aumentar o plantio e para isso criaram a Agropolo, uma associação que se propõe a usufruir da água e, ao mesmo tempo, fiscalizar. Dizem que estão dispostos a produzir preservando.

“Hoje deve estar sendo utilizada para agricultura em torno de 20% da área do polígono, então temos 80% aí que seria reserva, lagos, povoados, mas todas as fazendas que estão no Agropolo já tem praticamente separados os 20% da reserva”, afirma Orlando Feiler, diretor do Agropolo.

O carro-chefe do agronegócio é a batata. Só uma fazenda tem dois mil hectares irrigados e produz 90 mil toneladas por ano. Grande parte do abastecimento de batata do nordeste sai de lá.

A produção é responsável por 700 empregos diretos. O tratorista João Neto é baiano da Chapada e passou seis anos trabalhando de pedreiro em São Paulo. Quando soube da batata em sua terra, não pensou duas vezes. “Meu pai me ligou e disse que tinha umas empresas gerando emprego e que estava uma benção para fichar as pessoas. Aí eu cheguei num dia, no outro dia já estava lá no escritório da firma pedindo emprego. Foi fácil”.

O novo pólo agrícola de Mucugê recentemente ganhou um reforço. Uma indústria transforma parte da produção do campo em batata palito, congelada. São 15 mil toneladas por ano, por enquanto.

Onde só produzia café, milho e feijão, agora tem lavouras que essas terras não conheciam. O povo da região costuma dizer que as águas do Paraguaçu estão produzindo um milagre.

A maçã é uma fruta de clima temperado, que precisa de frio em grande parte do ano. Por isso, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são os grandes produtores nacionais.
O holandês Theodorus Daamen já tinha feito experiências em outras regiões nordestinas, mas não deram certo. Quando descobriu a Chapada Diamantina e as águas do Paraguaçu, tudo mudou.

A região, que tem sol forte durante o dia, tem noites frias e altitude acima de mil metros. São essas as condições que Theodorus precisava para desenvolver uma variedade especial de maçã. “Essa variedade, a Eva, já pode florescer com 150 horas de frio, em temperatura abaixo de 7°C, acumulada durante o inverno”.

Uma combinação perfeita: variedade, solo, clima e muita água. Equilíbrio até no sabor. Quatro safras de maçã já foram colhidas e a cada ano a produtividade aumenta.
“O nosso pomar está em formação, a nossa projeção é que ele atinja, daqui a três anos, a estabilidade com 40 toneladas por hectare”, afirma Mauro carneiro, diretor da Bagisa.

Onde brota a maçã, brota também a ameixa. São culturas muito parecidas, que se desenvolvem no mesmo clima. Gente que nem conhecia a fruta foi treinada para trabalhar no pomar.
 
Fonte: G1.com

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