Pesquisadores de museologia apontam panorama da área em seminário
Museu Castro Alves - Cabaceiras do Paraguaçu - Bahia (Foto: Anderson Bella) |
Foi realizado entre os dias 08 e 10 de novembro o XIV Seminário de Integração Curso de Museologia / Museus da Cidade do Salvador, promovido pelo Departamento de Museologia da Universidade Federal da Bahia (FFCH/Ufba). As palestras, debates e minicursos contaram com a participação de diversos professores, estudantes e profissionais museólogos. O evento é parte integrante da Semana de Arte, Cultura, Ciência e Tecnologia (Acta).
Na quarta-feira (09), a programação foi iniciada com a mesa-redonda sobre Museologia Contemporânea, do qual participaram a doutora em Antropologia Social (Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro – Ufrj) e professora do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Regina Abreu e a doutoranda em Museologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT/Portugal) e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Manuelina Cândido. Durante sua apresentação, Manuelina afirmou que “nada na museologia é apenas deste campo. Todos seus aspectos são de ordem multidisciplinar”, fazendo refletir sobre a integração da museologia com outras áreas. “Isso não significa que ela não produza conhecimento novo, mas que ela está em constante mediação com outros conhecimentos multidisciplinares”, complementou.
Na sessão de debates, Regina Abreu foi questionada sobre a possibilidade de se criar políticas de identificação e aproximação do público com os museus de Salvador. O interlocutor e gestor do museu biográfico Parque Histórico Castro Alves (PHCA), localizado na cidade de Cabaceiras do Paraguaçu, apresentou sua experiência, dizendo que na cidade as pessoas se identificam com o museu, existe uma apropriação local. Regina Abreu sugeriu a realização de pesquisas para “entender o que as pessoas pensam sobre os museus, como estes são enxergados pelas pessoas das cidades e bairros em que se localizam”. Neste sentido, “o papel da universidade é muito importante. Conhecer a história dos museus pra saber o que eles tem a ver com a gente é fundamental”, acrescenta a pesquisadora.
Museus no interior do estado
Dando sequência à programação, a representante da Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac/Secult-Ba), Ana Cristina Coelho, iniciou palestra sobre os museus no interior da Bahia. Ela citou a experiência de mapeamento de museus realizada pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult/Ba), onde foram catalogados 208 instituições, espalhadas pelos diversos territórios do estado. “18,7% dos municípios baianos possuem museus. Os territórios do Velho Chico e Bacia do Rio Jacuípe são os únicos que não possuem instituições museólogas”. Ao apresentar a situação atual dos museus do estado – onde 155 estão funcionando, 25 estão fechados, são 12 em implantação, 09 desativados e 07 cujas informações são desconhecidas, Ana Cristina afirma que “existe um desejo por parte da população em criar museus, mas não se prevê a continuidade e permanência deles”.
A museóloga apresentou algumas limitações enfrentadas pelos museus do estado, “muitos não possuem registro, definição jurídica, o que dificulta na captação de novas fontes de recurso; não realizam catalogação do acervo e muitos dos museus possuem peças expostas, em risco de degradação”. Ela aponta a necessidade de se discutir formas de promover a articulação e integração das instituições com os cursos de museologia. Existe ainda a demanda de criação de museus nos territórios. “Todos os oito territórios que passei solicitaram a criação de museus. Nas reuniões realizadas, a gente vê a necessidade de obter informações sobre o patrimônio”, afirma Ana Cristina.
Museologia e mercado de trabalho
No painel Leituras sobre o mercado de trabalho no campo da Museologia, a presidente do Conselho Federal de Museologia (Cofem), Telma Lasmar e o presidente do Conselho Regional de Museologia (Corem-1R), Antônio Marcos Passos, apontaram perspectivas sobre o campo de atuação profissional do museólogo.
Telma Lasmar iniciou expondo a dificuldade da regulamentação do curso de museologia como um primeiro desafio para a área. “A regulamentação durou de 1964 a 1984, portanto, vinte anos, para se concretizar”. Aponta ainda a dificuldade enfrentada pelo fato de que a titulação em museologia é dada a mestres e doutores. “Uma pessoa de outra área que faz mestrado ou doutorado em museologia, recebe o título de museólogo”, afirma Telma.
“Pode ser que a área não tenha emprego – com carteira assinada, férias etc – mas trabalho tem”, se posiciona a presidente do Cofem, voltando-se à palestra anterior, em que foram apresentados diversos museus do interior que sofrem com a ausência de técnicos museólogos. “O estudante de museologia quando se formar tem alguns caminhos possíveis: a realização de concursos públicos (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Instituto Brasileiro de Museus, universidades); o trabalho autônomo, como profissionais liberais; o trabalho em empresas privadas, que cada vez mais contratam profissionais para constituírem seus espaços de memória e o trabalho de courrier, o especialista que faz o laudo técnico da obra de arte e acompanha a embalagem, transporte e montagem da peça. Esta é uma boa opção de emprego para quem quer ser bem remunerado”.
Telma, que destinou sua palestra aos estudantes de Museologia, terminou solicitando que quando se formarem eles “olhem com carinho para as áreas de documentação museológica e reserva técnica, já que a maioria dos profissionais ignoram os setores, pois só querem trabalhar em áreas visíveis”.
Antônio Marcos complementou o debate iniciado por Telma e se voltou para os avanços necessários para a área, segundo ele os profissionais da área “necessitam de salários compatíveis, condições de trabalho com equipamentos suficientes, envolvimento dos museólogos e faculdades com os conselhos regionais e federal de museologia e da realização de estudos que tracem e compreendam o perfil do profissional (nível de instrução, qualificação, condições de trabalho, salário etc)”.
Com informações de http://www.memoriasocial.pro.br/linhas/arouca/equipe.htm
*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
Na quarta-feira (09), a programação foi iniciada com a mesa-redonda sobre Museologia Contemporânea, do qual participaram a doutora em Antropologia Social (Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro – Ufrj) e professora do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Regina Abreu e a doutoranda em Museologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT/Portugal) e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Manuelina Cândido. Durante sua apresentação, Manuelina afirmou que “nada na museologia é apenas deste campo. Todos seus aspectos são de ordem multidisciplinar”, fazendo refletir sobre a integração da museologia com outras áreas. “Isso não significa que ela não produza conhecimento novo, mas que ela está em constante mediação com outros conhecimentos multidisciplinares”, complementou.
Na sessão de debates, Regina Abreu foi questionada sobre a possibilidade de se criar políticas de identificação e aproximação do público com os museus de Salvador. O interlocutor e gestor do museu biográfico Parque Histórico Castro Alves (PHCA), localizado na cidade de Cabaceiras do Paraguaçu, apresentou sua experiência, dizendo que na cidade as pessoas se identificam com o museu, existe uma apropriação local. Regina Abreu sugeriu a realização de pesquisas para “entender o que as pessoas pensam sobre os museus, como estes são enxergados pelas pessoas das cidades e bairros em que se localizam”. Neste sentido, “o papel da universidade é muito importante. Conhecer a história dos museus pra saber o que eles tem a ver com a gente é fundamental”, acrescenta a pesquisadora.
Museus no interior do estado
Dando sequência à programação, a representante da Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac/Secult-Ba), Ana Cristina Coelho, iniciou palestra sobre os museus no interior da Bahia. Ela citou a experiência de mapeamento de museus realizada pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult/Ba), onde foram catalogados 208 instituições, espalhadas pelos diversos territórios do estado. “18,7% dos municípios baianos possuem museus. Os territórios do Velho Chico e Bacia do Rio Jacuípe são os únicos que não possuem instituições museólogas”. Ao apresentar a situação atual dos museus do estado – onde 155 estão funcionando, 25 estão fechados, são 12 em implantação, 09 desativados e 07 cujas informações são desconhecidas, Ana Cristina afirma que “existe um desejo por parte da população em criar museus, mas não se prevê a continuidade e permanência deles”.
A museóloga apresentou algumas limitações enfrentadas pelos museus do estado, “muitos não possuem registro, definição jurídica, o que dificulta na captação de novas fontes de recurso; não realizam catalogação do acervo e muitos dos museus possuem peças expostas, em risco de degradação”. Ela aponta a necessidade de se discutir formas de promover a articulação e integração das instituições com os cursos de museologia. Existe ainda a demanda de criação de museus nos territórios. “Todos os oito territórios que passei solicitaram a criação de museus. Nas reuniões realizadas, a gente vê a necessidade de obter informações sobre o patrimônio”, afirma Ana Cristina.
Museologia e mercado de trabalho
No painel Leituras sobre o mercado de trabalho no campo da Museologia, a presidente do Conselho Federal de Museologia (Cofem), Telma Lasmar e o presidente do Conselho Regional de Museologia (Corem-1R), Antônio Marcos Passos, apontaram perspectivas sobre o campo de atuação profissional do museólogo.
Telma Lasmar iniciou expondo a dificuldade da regulamentação do curso de museologia como um primeiro desafio para a área. “A regulamentação durou de 1964 a 1984, portanto, vinte anos, para se concretizar”. Aponta ainda a dificuldade enfrentada pelo fato de que a titulação em museologia é dada a mestres e doutores. “Uma pessoa de outra área que faz mestrado ou doutorado em museologia, recebe o título de museólogo”, afirma Telma.
“Pode ser que a área não tenha emprego – com carteira assinada, férias etc – mas trabalho tem”, se posiciona a presidente do Cofem, voltando-se à palestra anterior, em que foram apresentados diversos museus do interior que sofrem com a ausência de técnicos museólogos. “O estudante de museologia quando se formar tem alguns caminhos possíveis: a realização de concursos públicos (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Instituto Brasileiro de Museus, universidades); o trabalho autônomo, como profissionais liberais; o trabalho em empresas privadas, que cada vez mais contratam profissionais para constituírem seus espaços de memória e o trabalho de courrier, o especialista que faz o laudo técnico da obra de arte e acompanha a embalagem, transporte e montagem da peça. Esta é uma boa opção de emprego para quem quer ser bem remunerado”.
Telma, que destinou sua palestra aos estudantes de Museologia, terminou solicitando que quando se formarem eles “olhem com carinho para as áreas de documentação museológica e reserva técnica, já que a maioria dos profissionais ignoram os setores, pois só querem trabalhar em áreas visíveis”.
Antônio Marcos complementou o debate iniciado por Telma e se voltou para os avanços necessários para a área, segundo ele os profissionais da área “necessitam de salários compatíveis, condições de trabalho com equipamentos suficientes, envolvimento dos museólogos e faculdades com os conselhos regionais e federal de museologia e da realização de estudos que tracem e compreendam o perfil do profissional (nível de instrução, qualificação, condições de trabalho, salário etc)”.
Com informações de http://www.memoriasocial.pro.br/linhas/arouca/equipe.htm
*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
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