Fundação Dr. Jesus é acusada de violação de direitos humanos
Foto: Dario Guimarrães/Metropress
O bem cuidado jardim de entrada da Fundação Dr. Jesus, que recebe dependentes químicos de toda a Bahia em Candeias, a 52 km de Salvador, esconde a dureza do tratamento a que internos seriam submetidos, de acordo com denúncias de diversas entidades. No ambiente, ao qual o Jornal da Metrópole teve acesso, placas com advertências são os primeiros indícios de que a vida dos que ali são colocados não é fácil. "Não pise na grama, sujeito a camisa vermelha", diz um letreiro, não elucidado por um interno questionado sobre o significado.
A explicação quem dá é Josueliton Souza, diretor presidente da Associação Metamorfose Ambulante (Amea), ligada ao Conselho Regional de Psicologia da 3ª Região (CR-03). Segundo ele, o lembrete significa 'isolamento'. Ele conta ainda que há outras camisas, com diferentes graus de punição, relacionadas a racionamento alimentar. "A cor determina a quantidade de comida. A vermelha significa não tê-la; a amarela, uma refeição por dia; a verde, duas; e a branca, três", denuncia. Há muitos anos acompanhando a situação da Dr. Jesus e de outras 'comunidades terapêuticas' do estado, Josueliton assegura: há internos que "cavam a própria cova" como forma de tratar o vício e, não raro, desaparecem ao deixar a entidade.
Ao todo, 1.092 pessoas vivem nas três unidades da Fundação Dr. Jesus, todas às margens da BR-324. Fundada há 11 anos, a instituição, comandada pelo deputado estadual Pastor Sargento Isidório (PSB), trata dependentes químicos, internados voluntariamente ou encaminhados pelos pais. A administração diz contar com psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, professores de Educação Física e um médico de plantão, além de líderes espirituais. No entanto, para órgãos reguladores e associações que visitaram a entidade, o internamento não passa de um 'encarceramento', que converte os internos à religião pentecostal à base de maus tratos, espancamentos, tortura psicológica e violação dos direitos humanos.
De joelhos
Em visita à sede da Fundação Dr. Jesus, a equipe do Jornal da Metrópole pôde observar uma parcela do dia a dia no local. Segundo um rapaz que disse fazer parte da administração, candidatos a vagas chegam todos os dias. Na parte exterior, TVs transmitem cultos enquanto alguns internos permanecem de joelhos ou com bíblias em mãos. Em uma sala de reuniões, uma psicóloga recebe possíveis pacientes e responsáveis para uma pequena palestra sobre a importância de 'querer' abandonar o vício. Em seguida, uma espécie de 'conselheira espiritual' assume o processo, que evolui para uma pregação religiosa voltada para as punições divinas aos usuários de drogas.
As punições, de acordo com denúncias, não ficam somente aí. Segundo o coordenador da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia da 3ª Região (CR-03), Carlos Vinícius Melo, a formatação do tratamento segue um viés teológico, embora os serviços de psicologia, nestes ambientes, não sejam regulamentados em função destas instituições não serem ainda reguladas pelo Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "O serviço que deve ser prestado para dependentes de substâncias psicoativas precisa de um aparato médico e científico. Mas, normalmente, os métodos utilizados lá são de orações, punições, e algumas chegam à violência física", denuncia.
Hospitalização e óbito
Para o presidente da Amea, acostumado a ver situações parecidas em outros estados brasileiros, o desrespeito aos direitos humanos ultrapassa limites na Fundação Dr. Jesus. "Há denúncias de hospitalização e óbito, pessoas enforcadas. Gente que saiu dali e nunca mais apareceu. O cara é sargento, é deputado, é muito dinheiro", afirma, referindo-se ao fundador. "Lá eles são enterrados e alimentados duas vezes por semana e ninguém sabe onde é, porque não está à vista. É uma técnica copiada do Canadá, de 1920, em que a pessoa cavava a própria cova com as mãos e ficava lá presa até começar a se recuperar e sair de lá por si só", denuncia.
Ainda de acordo com Josueliton, o período de recuperação assemelha-se a uma gestação: são nove meses em isolamento para que a pessoa possa "nascer de novo". Enquanto isso, há denúncias de espancamentos constantes. Para completar, há problemas nas instalações físicas, acomodações com estruturas precárias; paredes rachadas e piso irregular.
Vistoria foi negada
Garantindo abrir as portas do lugar para a equipe do Jornal da Metrópole, o Pastor Sargento Isidório disse não ter nada a esconder. No entanto, a equipe foi recebida com desconfiança pela administração e pela esposa do líder, pastora Elza, que se recusou a gravar entrevista e "convidou" a equipe a voltar em outro momento com a assessoria de imprensa. Questionado sobre as denúncias, Isidório negou tudo, mas confirmou usar métodos religiosos no tratamento dos internos. Em contradição ao discurso do deputado-pastor, equipes de fiscalização não encontram portas abertas.
Segundo Carlos Vinícius Melo, do CRP-03, uma vistoria encomendada pelo Conselho Federal de Psicologia em setembro do ano passado não foi feita, já que um grupo, acompanhado pela OAB-BA, sindicatos de servidores em saúde e dirigentes da Amea e do Ministério Público, não teve autorização para o serviço. "Só fizemos uma visita informal, e acredito que isso se deva à influência política do deputado". Segundo o Pastor Isidório, não houve solicitação. "Não sei de nada de Conselho. O que teve foi um bando de vagabundos que se aproveitaram de uma festa e tentaram invadir lá", rebateu.
FONTE: JORNAL DA METRÓPOLE
1 Comentários:
Não tenho ligação nenhuma a tal centro de Recuperação, mais a pergunta e a seguinte?
vcs estão crititicando o centro. o que estão fazendo para resgatar tambem esses doentes? nada? então cala a boca e vai fazer algo por esses viciados hora.
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