Silvio Santos diz à PF que executivo do Panamericano agiu como 'gângster'
O empresário Silvio Santos, ao ser questionado na Polícia Federal sobre a fraude que desmantelou o Banco Panamericano, declarou: 'Por uma dedução lógica, não é possível que Rafael (Palladino) não tenha sido o autor intelectual. Rafael é o camarada que faz 'porque é assim que eu quero'. O craque é o Rafael. Por impressão, o Rafael é o intelectual'. Quando a PF o indagou se era de seu conhecimento que o advogado Luiz Augusto Teixeira de Carvalho Bruno - ex-diretor jurídico do Panamericano - 'sacava valores em espécie do banco e guardava no porta-malas do carro', Silvio se declarou 'indignado de saber desse fato, pois se trata de uma prática de um verdadeiro gângster'.
'(Bruno) era advogado do Panamericano e muito amigo do Palladino', disse Silvio. 'As pessoas se referiam ao Bruno como o advogado do Rafael, e não o advogado do banco. Bruno seria um dos autores intelectuais, é um cara sabido, todo mundo diz que o Bruno é um cara vivo.'
Silvio, registrado Senor Abravanel, brasileiro, nascido aos 12 de dezembro de 1930, natural do Rio de Janeiro, segundo grau completo, profissão empresário, foi à Polícia Federal desacompanhado de advogados.
Preferiu prestar contas sozinho sobre o estouro do Panamericano, apenas ele e o delegado da PF que conduz o inquérito, Milton Fornazari Júnior, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (Delefin).
Silvio depôs no dia 5. Seu relato preenche 7 páginas. Assumiu o compromisso de comunicar à PF eventual mudança de endereço, comercial ou residencial, nos termos do artigo 224 do Código de Processo Penal.
Ao longo da audiência, na sede da PF em São Paulo, ele exibiu simpatia, amabilidade e sua marca tradicional, o sorriso. Mas, em alguns momentos, alegou 'surpresa' ou reagiu com 'indignação' ao ser informado sobre os caminhos da trama bilionária que levou sua instituição financeira à bancarrota.
Palladino, a quem Silvio atribui papel de 'autor intelectual' da fraude, foi presidente do banco que pertenceu ao grupo do empresário e apresentador de TV - o executivo foi seu braço direito por 20 anos.
Descobertas. O depoimento revela passo a passo a linha de investigação e as descobertas da PF no curso de um ano de investigação. Todo o rol de perguntas a Silvio mostra como grandes importâncias saíram do caixa do Panamericano e migraram para supostas empresas de fachada.
Segundo a PF, 12 personagens sob investigação realizaram 38 transferências que totalizaram R$ 76,92 milhões, entre 2008 e 2010. Para duas empresas controladas por Palladino, Max Control Assessoria e Investimentos e Max Control Evento e Promoção, foram repassados R$ 19,88 milhões, aponta a PF. 'Nunca soube disso', afirmou Silvio.
'Quem administrava de fato o banco era o Palladino', disse o apresentador. 'O Luiz Sandoval supervisionava a gestão de Palladino. Não sei quanto a holding recebeu de dividendos do banco entre 2008 e 2010. Sandoval sempre me falava que não podia tirar nenhum valor do caixa da holding para pagar dividendos porque o banco estava sempre em risco e não poderia faltar caixa.'
Silvio explicou que 'o único pagamento' que recebeu naquele período foi o deduzido da compra do Hotel Sofitel Jequiti, no Guarujá, que pertencia à holding Silvio Santos Participações. 'Sandoval me disse que tinha direito a receber R$ 80 milhões a título de dividendos. Comprei o hotel, cujo preço era R$ 150 milhões, por R$ 70 milhões, já descontados os dividendos que me eram devidos.'
Contou ter ido a uma reunião no Banco Central no final de setembro de 2010. Encontrou-se com Henrique Meirelles (então presidente do BC) e 'quatro ou cinco diretores'. 'O chefe da fiscalização do BC disse que a situação era grave e que o valor do rombo era de R$ 1,6 bilhão. Ele disse que iriam liquidar o banco e que eu deveria procurar o Antônio Carlos, chefe do Fundo Garantidor. Quando fui falar com Antônio Carlos, disseram que o rombo era de R$ 2,5 bilhões.'
Segundo Silvio, o Fundo 'queria evitar que a ruptura do Panamericano ocasionasse violenta quebra de confiança no sistema financeiro'. Viajou para Orlando. Ao retornar, o chefe do Fundo informou que o valor da dívida 'não era mais de R$ 2,5 bilhões, e sim de R$ 4,3 bilhões'. 'Antônio Carlos perguntou se eu venderia o banco, disse que André Esteves, do BTG, teria interesse em comprar por R$ 450 milhões. Vendi para o BTG.'
'Nunca soube, vou procurar saber', diz Silvio sobre saques
Silvio Santos recorreu a uma resposta padrão à maior parte do rol de perguntas que lhe foram feitas pela PF. 'Nunca soube.' Afirmou desconhecer até mesmo saques em espécie que o ex-diretor financeiro, Wilson Roberto de Aro, teria efetuado, segundo informou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). As movimentações estão descritas no Relatório de Inteligência Financeira 6182/2011.
Em 10 de junho de 2011, De Aro sacou R$ 122.703 em desfavor da Panseg Promoções e Vendas e, cinco dias depois, mais R$ 337.253 em desfavor da SS Comércio de Cosméticos e Produtos de Higiene Pessoal. As empresas integram a holding Silvio Santos. O empresário disse que 'nunca soube disso' e que 'vai procurar saber o que aconteceu'.
A PF questionou-o sobre operações financeiras que resultaram na saída de R$ 76,92 milhões do caixa do Panamericano, entre 2008 e 2010. 'Nunca soube disso.' Segundo a PF, tais valores migraram para supostas empresas de fachada. Parte do montante, R$ 13, 76 milhões, foi transferido 'em favor da empresa de fachada Lupo Advogados Associados', de Luiz Sebastião Sandoval, ex-presidente da holding e homem de confiança de Silvio por 28 anos. Segundo a PF, para a 'empresa de fachada Teixeira de Carvalho Bruno Advocacia', do advogado Luiz Augusto Teixeira de Carvalho Bruno, foram repassados R$ 5,57 milhões.
Dinheiro do Panamericano também foi parar na conta até de quem Silvio diz não conhecer. É o caso de Eduardo de Ávila Pinto Coelho. 'Não o conheço, mas soube que ele era o responsável pela área de tecnologia e sem o auxílio dele não seria possível a realização das fraudes', declarou. A investigação revela que entre 2008 e 2010, foram transferidos R$ 755,2 mil para a empresa de Coelho, a GAPC Consultoria Ltda.
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