Midia Recôncavo - Oficial - Por Anderson Bella

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Cabeças: Chacina que deu nome à Localidade

Antonio Pereira da Mota Júnior
Como nasceu As Cabeças?!

Pergunta o curioso. Não achando resposta que satisfaça a raciocínio, deixa de lado, não mais tentando investigar. Eu, no entanto, investiguei até que encontrei a ponta e o fio da complexa meada. Em 1914 conheci esta localidade – Cabeças! Cabeças de quê? Ninguém sabia explicar nada. Curioso, apelei para os velhos naturais da localidade. Vários deles eram vegetativos. Só queriam viver a vida que Deus lhes deu. Contudo, continuei investigando. Um certo dia encontrei-me com um certo velho caboclo, de cabelos lisos, que sabia contar histórias do seu tempo de menino. Eis, aí! As chamas da minha curiosidade deram labaredas! Cabeças de quê?... O dito velho Saturnino – era o seu nome – passou a debulhar o conteúdo do seu raciocínio, armazenado quando criança, o que ouvira dos seus avós...   Aí, vai a história!
O nome das Cabeças, gerou, fecundada pelo ódio, vindo à luz no trovejar de uma arcabuzada.
Nos idos tempos, quando imperava a lei do mais forte, era, por aqui a grande artéria de ligação da Bahia ao grande Estado de Minas Gerais. Era por essa longa via pública que vinham as grandes tropas de muares e cavalares, escoteiros e carregados, além dos grandes boiadeiros, vindo e indo, tudo, nesse afã de tráfego, de ligação com aquele grande e produtivo Estado mineiro. Havia, aqui, neste trecho, de longa e movimentada estrada, um bifurcamento, cujo desvio ia ter ao Rio Paraguaçu, achando-se, até o presente, a dita Estrada, na Praça-Sede, deste novo município “Governador Mangabeira”.
Era, então, esta região de rara habitação e de múltiplos perigos, quando os raios de certa manhã, ao levantar o manto da noite que findava, chocaram-se e estremeceram-se de espanto ao descobrir, os olhos esbugalhados, das cabeças humanas enfiadas em pontas de estacas! Era o banditismo em ação! Era a época do bacamarte traiçoeiro! Era a época das chacinas, frias, encomendadas! Aí mesmo, ao lado, no leito da via pública imperial, jaziam os corpos decapitados. O trecho, local, não tinha, até então, segundo parece, nenhuma denominação, visto que, o escabroso acontecimento figurara nos olhares assustados dos transeuntes às pontas das estacas dando nome daqueles cofres do pensamento, ali, trancados para eternidade, pelo chumbo-quente, como legado, até o dia 14 de março, próximo passado, quando, em comemoração ao aniversário de nascimento do maior poeta das Américas – Antonio de Castro Alves – teve seu segundo batismo – sendo este soleníssimo – recebendo o nome, sublime por todos os títulos, de “Governador Mangabeira”. Essa grande data foi um pensamento feliz do Industrial José Carvalho, que, por intermédio do Dr. Pedro Cone, Presidente do Instituto Bahiano de Fumo, que valendo-se da sua influência junto ao Governador Juraci Magalhães, conseguiu a promulgação naquele dia, revivendo, assim, aquela grande data, juntando a esta nova, que surgiu, unindo-as numa magnífica dupla, que as gerações do porvir haverão de comemorar, com orgulho.

Ficaram, assim, enterradas as Cabeças que estavam insepultas... mas a história continua!

Este texto constitui a íntegra do capítulo I do livro “Chacina que deu nome à localidade” de Antonio Pereira da Mota Júnior, publicado em Maio/1962

Postado por Cláudio Santana

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