Primeira juíza negra do Brasil participa de debate da Flica, em Cachoeira
Debatedores criticaram propaganda com Machado de Assis branco (Foto: Ingrid Machado/ G1 BA) |
História e negritude foram os assuntos debatidos na primeira mesa desta sexta-feira (14) na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), no Recôncavo Baiano. Mediada pelo diretor teatral e ex-secretário de Cultura da Bahia, Márcio Meireles, a discussão foi realizada entre a primeira juíza negra do Brasil, Luislinda Valouis, a escritora mineira Ana Maria Gonçalves, autora do premiado livro “Um Defeito de Cor”, e pelo escritor, historiador e doutor em comunicação, Joel Rufino dos Santos.
A mesa começou com a provocação de Meireles sobre a negação do negro sobre si mesmo. Antes de começar a falar, a juíza Valouis pediu licença ao público para agradecer a Iansã, sua orixá. Em seguida, começou o debate em defesa do negro. “Como brasileira, como negra, um dos temas que mais me empolgam é falar sobre a negritude para abrir a cabeça dos brasileiros. É um povo que colabora até hoje para o crescimento do desenvolvimento socioeconômico do país”, observou.
A primeira juíza negra do Brasil destacou que ainda hoje o negro está em segundo plano em vários aspectos da sociedade brasileira. Ela aponta que no Carnaval da Bahia, por exemplo, as mulheres negras são chamadas para danças e os homens para tocar tambor em camarotes, não para fazer parte da festa. Luislinda defendeu a política das cotas para negros no país e a entrada dos negros em cargos de chefia, como governo de estados, prefeitura, ministérios e a presidência do Brasil. "Anotem: antes de eu morrer ainda vou ver muito negro 'comandante' na Bahia. Advogo desta forma porque a inteligência não é privilégio de nenhuma raça, é do humano. Faltam oportunidades”, disse.
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O público interferiu bastante no primeiro debate através de questionamentos escritos, entregues ao mediador Márcio Meireles. Os três debatedores foram muito aplaudidos durante toda a mesa. Uma das provocações da plateia foi sobre os jogadores negros que atuam na França, mas não são nascidos no país, que se recusam a cantar o hino local durante os jogos. De imediato a escritora mineira Ana Maria Gonçalves puxou uma nova discussão. “Eles [os jogadores negros] não são aceitos pela sociedade francesa. Não cantar o hino deles é uma forma de protesto e tem que ser mesmo porque é o país onde eles não são aceitos como sociedade”, disse. “Os brasileiros também não cantam o hino nacional, eles mexem a boca”, emendou Luislinda.
O historiador Joel Rufino observou que é necessário cautela para a ocupação de cargos de chefia por negros. "Querer negros nessas posições é bom, mas vamos tomar cuidado quanto às ilusões. Sempre que o negro se mistura com o branco tende a se dar mal, porque o poder está com o outro. Esse poder eu não quero. A escravidão está sendo processada de uma outra maneira. O negro continua sendo objeto”, pontuou. Luislinda Valouis discordou da colocação de Rufino e rebateu: “Se o poder é bom, eu também quero a minha cota”, completou.
O conceito de escravidão, a afirmação e negação do ser negro e as ideias de racismo e racialismo também foram debatidos na mesa. Os três criticaram também a veiculação de um comercial em que o escritor Machado de Assis aparece branco. “Ele era negro, filho de escravos. Acho que a agência, a produtora e a gerência de marketing não fizeram pesquisa”, disse Ana Maria. Luislinda discordou mais uma vez. “Fizeram sim e mesmo assim veicularam porque era conveniente para eles”, pontuou.
Ao final do debate, os participantes receberam o público na livraria LDM, localizada ao lado das mesas no Conjunto do Carmo. Joel Rufino distribuiu alguns exemplares do livro “A Questão do Negro na Sala de Aula” para a plateia. A última obra publicada do historiador é “Bichos da Terra Tão Pequenos”. Ana Maria Gonçalves foi premiada no Casa de Las Américas pelo livro “Um Defeito de Cor”. Luislinda Valouis tem publicado o livro “O Negro no Século XXI” (Juruá).
Ainda nesta sexta-feira, o bacharel em Direito e Ciências Sociais, escritor e compositor popular, Nei Lopes, apresenta a mesa “Letras e Tretas: O samba na realidade e na ficção de Nei Lopes”, às 15h. À noite, às 19h, ele divide as discussões do debate “Contexto Racial nas Américas” com o escritor Rodrigo Constantino e com a doutora em Comunicação Liv Sovik. Os dois assistiram ao debate sobre História e Negritude na manhã desta sexta. Quem encerra a programação oficial da festa é o Samba Suerdick, eleito pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade. O grupo composto por cachoeiranos se apresenta às 22h no palco Cachoeira, na orla da cidade. Informações do G1
A mesa começou com a provocação de Meireles sobre a negação do negro sobre si mesmo. Antes de começar a falar, a juíza Valouis pediu licença ao público para agradecer a Iansã, sua orixá. Em seguida, começou o debate em defesa do negro. “Como brasileira, como negra, um dos temas que mais me empolgam é falar sobre a negritude para abrir a cabeça dos brasileiros. É um povo que colabora até hoje para o crescimento do desenvolvimento socioeconômico do país”, observou.
A primeira juíza negra do Brasil destacou que ainda hoje o negro está em segundo plano em vários aspectos da sociedade brasileira. Ela aponta que no Carnaval da Bahia, por exemplo, as mulheres negras são chamadas para danças e os homens para tocar tambor em camarotes, não para fazer parte da festa. Luislinda defendeu a política das cotas para negros no país e a entrada dos negros em cargos de chefia, como governo de estados, prefeitura, ministérios e a presidência do Brasil. "Anotem: antes de eu morrer ainda vou ver muito negro 'comandante' na Bahia. Advogo desta forma porque a inteligência não é privilégio de nenhuma raça, é do humano. Faltam oportunidades”, disse.
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O público interferiu bastante no primeiro debate através de questionamentos escritos, entregues ao mediador Márcio Meireles. Os três debatedores foram muito aplaudidos durante toda a mesa. Uma das provocações da plateia foi sobre os jogadores negros que atuam na França, mas não são nascidos no país, que se recusam a cantar o hino local durante os jogos. De imediato a escritora mineira Ana Maria Gonçalves puxou uma nova discussão. “Eles [os jogadores negros] não são aceitos pela sociedade francesa. Não cantar o hino deles é uma forma de protesto e tem que ser mesmo porque é o país onde eles não são aceitos como sociedade”, disse. “Os brasileiros também não cantam o hino nacional, eles mexem a boca”, emendou Luislinda.
O historiador Joel Rufino observou que é necessário cautela para a ocupação de cargos de chefia por negros. "Querer negros nessas posições é bom, mas vamos tomar cuidado quanto às ilusões. Sempre que o negro se mistura com o branco tende a se dar mal, porque o poder está com o outro. Esse poder eu não quero. A escravidão está sendo processada de uma outra maneira. O negro continua sendo objeto”, pontuou. Luislinda Valouis discordou da colocação de Rufino e rebateu: “Se o poder é bom, eu também quero a minha cota”, completou.
O conceito de escravidão, a afirmação e negação do ser negro e as ideias de racismo e racialismo também foram debatidos na mesa. Os três criticaram também a veiculação de um comercial em que o escritor Machado de Assis aparece branco. “Ele era negro, filho de escravos. Acho que a agência, a produtora e a gerência de marketing não fizeram pesquisa”, disse Ana Maria. Luislinda discordou mais uma vez. “Fizeram sim e mesmo assim veicularam porque era conveniente para eles”, pontuou.
Ao final do debate, os participantes receberam o público na livraria LDM, localizada ao lado das mesas no Conjunto do Carmo. Joel Rufino distribuiu alguns exemplares do livro “A Questão do Negro na Sala de Aula” para a plateia. A última obra publicada do historiador é “Bichos da Terra Tão Pequenos”. Ana Maria Gonçalves foi premiada no Casa de Las Américas pelo livro “Um Defeito de Cor”. Luislinda Valouis tem publicado o livro “O Negro no Século XXI” (Juruá).
Ainda nesta sexta-feira, o bacharel em Direito e Ciências Sociais, escritor e compositor popular, Nei Lopes, apresenta a mesa “Letras e Tretas: O samba na realidade e na ficção de Nei Lopes”, às 15h. À noite, às 19h, ele divide as discussões do debate “Contexto Racial nas Américas” com o escritor Rodrigo Constantino e com a doutora em Comunicação Liv Sovik. Os dois assistiram ao debate sobre História e Negritude na manhã desta sexta. Quem encerra a programação oficial da festa é o Samba Suerdick, eleito pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade. O grupo composto por cachoeiranos se apresenta às 22h no palco Cachoeira, na orla da cidade. Informações do G1
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